A moda dos bares "secretos" se alastra por São Paulo
Isso aconteceu no ano passado. Estava num bar na Bleecker Street, em Nova York, esperando por um amigo. Escorados no balcão de madeira rústica, algumas pessoas jogavam conversa fora com seus enormes e mornos copos de chopes, e os clássicos mal humorados barman e barwomen novaiorquinos encaravam as pessoas e juntavam suas gorjetas jogadas pelo enorme balcão.
Meu amigo chegou atrasado e me disse "vamos?". E eu achando que já "estávamos".
Eu o segui até o fundo do bar e descemos uma longa e fina escada. Os degraus eram altos e tive de fazer um certo esforço para não cair rolando escada abaixo. Lá embaixo, três pesadas portas de madeira. Duas delas eram banheiros, com placas que identificavam o gênero. Ele empurrou com as duas mãos a terceira porta e uma surpresa se materializou diante dos meus olhos.
Outro bar, completamente diferente do morno andar superior. A iluminação era elaborada, as pessoas riam alto e dançavam na pista, equilibrando drinques coloridos. O bar tinha um balcão de vidro, e a iluminação que vinha de baixo dele revelava o quão bonitas eram as pessoas. Bem maquiadas, magras e bem vestidas, com cortes de cabelo e penteados elaborados. Ninguém ali estava "de passagem". As pessoas sabiam muito bem onde estavam indo. Cruzavam o bar do andar de cima rumo ao esconderijo. Meu amigo cumprimentou com um beijo quase todos os presentes.
Esses "esconderijos" são chamados de speakeasy. Bares que não ostentam placas luminosas na porta, alguns no fim de becos ou ruelas, outros em porões só acessíveis através da cozinha de algum restaurante. A ideia é justamente essa: só sabe quem sabe. E o gostoso é o clima intimista de festa de amigos que paira no ar. A moda chegou a São Paulo bem discretamente em meados deste ano e agora virou febre. É chique, cool, dizer que já foi num deles, como se você entrasse numa lista ultravip, de gente que é simplesmente convocada para surgir em tal lugar. Você, enfim, é um dos escolhidos.
A origem do nome é antiga. Vem da década de 20, quando os Estados Unidos viviam um período conhecido como Prohibition. A lei seca da época, federal, proibia a produção, transporte e comercialização de bebidas alcoólicas. O speakeasy, então, era o tipo de estabelecimento que vendia bebida alcoólica durante esse período. O termo em si vem do modo como se devia pedir um drinque sem levantar suspeitas: speak easy, em inglês, fale baixo. Quer tentar ser um escolhido? Tente um desses bares speakeasy de São Paulo:
Dry - sem placas, tem um segurança na porta. O bar é pequeno e tem uma atmosfera intimista.
Rua Padre João Manoel, 700, Jardins.
Secreto Bar - uma casa de esquina, sem placas, nem movimento na rua.
Rua Alvaro Anes, 97, Pinheiros.
Subastor - No andar inferior do bar Astor, com uma seta vermelha apontando para as escadas.
Rua Delfina, 163, Vila Madalena.
Jazz nos Fundos - atravesse um estacionamento e percorra um corredor. Não desista, é uma das mais descoladas casas de jazz em São Paulo.
Rua João Moura, 1076, Pinheiros.
Atelier - Nos fundos de uma casa, só os conhecidos se atrevem a cruzar num pátio, e entrar porta adentro.
Alameda Tietê, sem número, Jardins.
Por Mariana Baccarin, pro TERRA.
Imagem: Blog Fora de Moda
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