sábado, 4 de abril de 2009

Entrevista para o Santa: Edson Pedro da Silva - Presidente do Metrô

"É 80% certo que vamos construir um estádio"

O Metropolitano tem apenas sete anos e já conquistou o coração de muita gente. O médico Edson Pedro da Silva, 60 anos, é um, entre tantos apaixonados. A diferença é que ele é o presidente do clube, ao qual se dedica voluntariamente nos intervalos de uma agenda cheia no consultório. Foi justamente a falta de tempo que o fez pensar em não assumir a presidência do Verdão, mas o desejo de fazer um futebol forte em Blumenau foi maior.

Pingo, como ele é conhecido, mudou de ideia e assumiu o comando em outubro de 2007, voltando a atuar em uma função que exerceu no BEC no final dos anos 80. Em entrevista especial ao Santa, na última quinta-feira, ele revela como foi parar no Metropolitano, fala das dificuldades enfrentadas desde que assumiu a presidência e garante: até o fim deste mês o Verdão terá novidades em relação ao estádio, um dos projetos mais audaciosos do clube.

Paola - Bom, presidente, a gente gostaria de fazer um balanço das últimas competições do clube...

Pingo - Então me permitam começar com uma breve introdução. Desde que assumimos, há um ano e meio, jogamos dois campeonatos catarinenses. De quatro turnos, jogamos três fora de casa. No único turno que jogamos em Blumenau, fizemos uma campanha excepcional, com renda excepcional. Isso nos livrou dos prejuízos que vínhamos tendo no campeonato.

Paola - A Série C foi no Sesi e o Metropolitano acabou eliminado na primeira fase. Perder essa chance comprometeu o planejamento?

Pingo - Sim. Era nossa chance de cortar caminho. Sempre nos perguntávamos: vamos tentar permanecer na Série C ou vamos para participar? Nossa arrecadação não permitia fazer uma grande equipe, mas era uma oportunidade única de ficar na Série C, porque ela ia mudar. Resolvemos arriscar e foi aquele desastre. Arrancamos bem, com um empate com o Brasil, em Pelotas, e depois foi tudo ao contrário do que esperávamos. Isso abriu um rombo financeiro violento.

Rodrigo - A que você atribui o fracasso na Série C?

Pingo - Começou a ocorrer uma porção de problemas, inclusive na comissão técnica, com pessoas querendo puxar o pé do treinador, o Cesar Paulista. Isso atingiu o grupo. As contratações também... O Pachola, por exemplo, a gente trouxe como sendo o cara e ele não fez nada. Ele mesmo falava que existiam problemas no grupo. A Série C foi uma grande decepção.

Rodrigo - Após a eliminação, o clube fez um planejamento longo para o Catarinense, contratou o Paulo Porto e disputou a Copa Santa Catarina. Tinha tudo para dar certo. Por que não deu?

Pingo - Houve muitos equívocos. O principal foi ter desmontado a equipe. Tínhamos uma base e, de repente, ninguém servia mais. O Nequinha fui eu quem segurei aqui, aí começaram a dizer que ele era o queridinho da diretoria. Não é isso. Queria que outros ficassem também. Foi trazido um grupo totalmente novo, quando meu conceito de futebol é manter a base.

Paola - Assim também fica difícil manter o clube?

Pingo - Olha, antigamente era bem mais fácil. Hoje, há um lapso. É difícil manter sem ter uma base forte, uma programação continuada. O Metropolitano, hoje, é um time virtual. Ele existe naquele momento, durante o campeonato, e depois desaparece. Futebol é continuidade. Um time pode não ter as qualidades técnicas de outro, mas se ele estiver jogando sempre junto e com vontade, se sobrepõe. Enquanto não tivermos essa continuidade, vai ser assim, na base do vamos lá.

Cláudio - E a base? Por que não a vemos prosperar?

Pingo - Temos pouco tempo de base, um ano só. A base começa a formar jogadores lá pelo terceiro, quarto ano. E, mesmo assim, excepcionalmente vai sair um, no máximo dois jogadores. Esse ano subimos quatro ou cinco para formar o profissional. Mas, às vezes, o jogador não está preparado ou não tem qualidade, ou o técnico não tem confiança em colocá-lo.

Cláudio - O goleiro Tiago foi o único que apareceu e depois sumiu. Por quê? E os outros?

Pingo - Ele teve um problema com o Barbieri (técnico) e a direção teve que dar uma amenizada. Também acho que o Ferruge (zagueiro) poderia ter sido lançado, como foi o Lucas. Sabíamos que estávamos com a defesa vulnerável e não tínhamos mais grana para contratar, e esse era o momento. Mas o treinadores temiam arriscar, já que não podíamos perder. Talvez se fosse um campeonato mais tranquilo ele teria sido lançado.

Paola - Como foi saber que teria de jogar pela segunda vez longe de Blumenau?

Pingo - Foi complicado. Eu estava tranquilo sobre o Sesi e quando estava chegando o campeonato, veio a enchente e esculhambou tudo. Nos prometeram que estaria tudo pronto para o Catarinense, mas 10 dias antes fomos informados que não teria condições. Tivemos que ir para Timbó, contratar gente para arrumar o gramado e colocar arquibancadas, um aluguel de R$ 8 mil. Depois fomos obrigados a ir para Jaraguá e pagar mais aluguel. Foi prejuízo atrás de prejuízo.

Cláudio - Voltar a Blumenau também foi um alívio para os cofres?

Pingo - O que salvou foi o retorno ao Sesi, no returno. Não tínhamos dinheiro para nada. Pagávamos 20%, 30% dos salários. Quando começava um mês, fechávamos o anterior. Assim que começou a entrar dinheiro já colocamos os salários em dia. Agora, todas as contas estão em dia. Vocês não têm noção da pressão que sofremos.

Rodrigo - O jogo contra o Marcílio Dias no returno foi o momento decisivo do campeonato. Se tivesse perdido, hoje o Metrô estaria rebaixado. E foi uma semana tensa, com dispensas, reuniões secretas. Hoje dá para dizer o que mudou no clube naquela semana?

Pingo - Foi uma semana interessante. Eu tinha ido a Búzios (RJ) e lá, aconselhado por pessoas da cidade, fui até uma igreja da Nossa Senhora Desatadora de Nós. Cheguei lá, com mais dois amigos, fotografei e pedi para que ela desatasse os nós do Metropolitano, que tinha passado o turno sem ganhar. Antes do jogo contra o Marcílio, resolvi fazer uma palestra e lembrei disso. Contei a história e também lembrei do ano passado, quando dizia que o que ganhava jogo era a diferença na atitude, que chamávamos de DNA. Fizemos uma camiseta com as iniciais DNA e deixamos em cima do uniforme de cada um. Também fiz uns santinhos com a foto da Nossa Senhora feita lá em Búzios. Deu certo. Ganhamos por 3 a 0 e virei devoto da Nossa Senhora Desatadora de Nós. Vamos instituir ela como padroeira do clube.

Cláudio - Quando você decidiu fazer as mudanças no departamento de futebol?

Pingo - Os problemas eram antigos, mas vínhamos administrando. Eu não podia tomar alguma atitude porque poderia rachar e, se isso acontecesse, talvez o Metropolitano não estaria aí ainda. Depois do jogo do Tubarão (derrota por 4 a 3) não deu mais. Não dormi e no outro dia chamei todo mundo e disse: vai ser assim. E começamos a mudar. Outro dia, marquei outra reunião, todo mundo expôs na cara do outro as diferenças, a chamada lavagem de roupa suja. Naquele dia, teve até homem chorando, mas todo mundo disse o que pensava. Começamos a trabalhar que foi uma beleza. Ai vieram Edimar, Cristiano...

Cláudio - Por que você voltou ao futebol?

Pingo - É uma longa história. Depois do BEC, há 20 anos, nunca mais fui ao campo e nem acompanhei campeonato catarinense. Estava decepcionado. Naquela época tinha muita virada de mesa, a gente alcançava um patamar e do nada era avisado que teria que conquistar tudo outra vez. A volta para o futebol foi por acaso. Formamos um grupo que queria fazer outro time em Blumenau. Ninguém queria ir para o Metropolitano, pois as informações que tínhamos eram de que era um time de empresário. Acho que o pessoal do Metropolitano soube e resolveu nos chamar para uma reunião. Fui contrariado, mas prometi que não abriria a boca. A exposição do Sandro (Glatz) me impressionou, pela franqueza e honestidade, e isso mudou meus conceitos. Vi que havia um grupo querendo fazer futebol sério e que não tinha apoio.

Paola - E como você se tornou um apaixonado pelo Metrô?

Pingo - Depois que a pessoa entra e começa a conhecer o clube, se apaixona. Essa torcida não existe. Ela é impressionante. Ela é o inverso da torcida do BEC. No BEC, se o time não estava legal, os torcedores quase pulavam no nosso pescoço. Não valia a pena sair de casa para fazer futebol e os caras encherem o saco. A torcida do Metrô não, ela apoia. Onde vou, eu ouço: não desanima, vai dar certo. Isso que me move.

Rodrigo - Por ter sido presidente do BEC em tempos áureos, e agora comandar o crescimento do Metrô, você se acha um símbolo do que deveria ser a união pelo futebol de Blumenau?

Pingo - Nem de perto. Não me acho nada. Acho que sou um dos elos da corrente. As pessoas que sabem pensar dessa maneira se dão bem. Por que eu, o Beto e o João nos demos bem? Porque pensamos da mesma maneira.

Cláudio - Depois de todas os problemas desse ano, o Metrô vai profissionalizar a direção de futebol?

Pingo - Esse é o caminho. No primeiro momento tinha que ser como foi. Minha vontade é que a MIP (Metropolitano Investimentos e Participações) assuma tudo, como foi o propósito inicial, inclusive o departamento de futebol. Então, o diretor de Esportes da MIP ficaria chefe da área de esporte e colocaria um profissional remunerado no futebol. Acabaria essa história de colegiados. Fica tudo profissional, inclusive a cobrança. Se não está fazendo certo, tira. Não tem mais o tal compromisso de amizade.

Paola - Quando isso será definido?

Pingo - Ainda não sei. Vou esperar um pouco porque estou cansando mentalmente. Antes, vou propor um replanejamento e começar por onde se deve começar: definindo quanto vamos gastar, quanto vai custar o time que queremos e como vamos conseguir isso. Já temos alguns patrocinadores e temos tempo para negociar mais e arrumar orçamento para o ano que vem.

Paola - E a Copa Santa Catarina?

Pingo - A Copa SC é uma incógnita. Até vi um diretor dizendo que disputaríamos, mas não é bem assim. Acho que ela tem que ser analisada quando chegar perto. É altamente deficitária. Será que não é melhor pegar esse dinheiro, guardar e formar uma equipe melhor no Estadual? Tudo tem que ser analisado porque também é uma maneira de preparar a equipe e um caminho mais curto de buscar a vaga na Série D. Ainda vamos discutir.

Cláudio - Se não disputar a Copa SC, é possível manter o elenco até o Estadual?

Pingo - Vamos emprestar alguns jogadores que são nossos e no final de ano trazemos a base e completamos com outros. Vamos observar e buscar jogadores de nível, claro, de acordo com o nosso orçamento. Já temos João Paulo, Nequinha e Fabinho, e nossa intenção é manter o Cristiano, o Ricardo Lobo e o Edimar. Mas o Edimar é muito caro para nós. O Cristiano, que se encaixa nos nossos padrões, está em negociação. Acerola está fora de cogitação. Pediram R$ 1 milhão. Eu disse: recuperamos o jogador para o futebol e agora vocês vêm com essa. Fiquei triste, mas nestes termos nem abri negociação.

Rodrigo - O clube já pensou em “alugar” o elenco, como o Joinville fez ano passado, disputando a Divisão Especial pelo Juventus?

Pingo -Pensamos, mas já descartamos esta possibilidade

Rodrigo - O senhor costuma dizer que não gosta de perder nunca. Sendo assim, a derrota para o Avaí no Sesi foi apenas dolorida ou deixou a sensação de que o time poderia ter feito mais naquele jogo?

Pingo - Foi a pior partida daquele grupo. Mas, nesse jogo, o interessante foi constatar que dá pra fazer um futebol legal em Blumenau. Saí feliz de campo, o time tinha feito a parte dele. Teríamos tido outra sorte se tivéssemos feito metade daquilo no primeiro turno, teria sido totalmente diferente. Dói saber que tínhamos condições de ir adiante.

Rodrigo - As lições do turno estão aprendidas?

Pingo - Não só do primeiro, como do segundo e até do ano passado. Sempre tentamos aprender. O Metropolitano está agora em momentos decisivos. Vamos ter uma grande volta administrativa.

Rodrigo - E o estádio próprio? Apesar de todo o mistério, sabemos que o Metrô não desistiu da ideia e continua trabalhando discretamente no projeto.

Pingo - Sentimos que muitos criticam o fato de o Metropolitano querer ter o próprio estádio. Então, resolvemos nem falar no assunto, por enquanto. Tanto que apenas quatro pessoas do clube, eu e mais três, sabemos em que pé estão as negociações. Posso garantir que está tudo muito adiantado, e logo tomaremos uma decisão. A localização está definida, só falta a negociação com o grupo que vai executar a obra. Hoje, é 80% certo que vamos construir um estádio.

Paola - Há previsão?

Pingo - Até o final do mês vamos definir essa situação. Quando teremos nosso estádio? Isso vai depender do aporte financeiro. Nesse momento, é até mais importante ter um Centro de Treinamento do que um estádio. Tudo vai ocorrer na mesma parada, mas eles serão em locais diferentes. Quando começarmos a construir, aí sim poderemos falar em Metropolitano de verdade. Por enquanto, estamos na pré-história do clube.

Rodrigo - Os terrenos estão escolhidos? Já pertencem ao clube?

Pingo - Posso dizer que sim, em relação ao estádio. Dia 23 teremos uma reunião da MIP e vamos propor que seja adquirido o terreno para o CT. São bons locais, na minha avaliação não podemos perder esta oportunidade. Vocês sabem onde eles ficam, mas prefiro não tornar isso público, por enquanto, porque sempre lembro da história do Ciefe, que seria uma evolução para a economia da cidade e tornou-se inviável pela especulação imobiliária sobre o terreno, depois que a localização foi divulgada.

Cláudio - Como será esse estádio?

Pingo - Não vai ser só um estádio. Vai ser um lugar que atenda toda a cidade, que funcione 24 horas. Investir, no mínimo, R$ 80 milhões e deixar o estádio parado quando não houver jogo, não dá. Ele precisa render para o clube, ter sustentabilidade e arrecadação própria.

Rodrigo - Se é possível medir, o quanto é difícil fazer futebol em Blumenau?

Pingo - Tem alguma palavra que significa mais do que difícil? Se houver, é isso. É muito batalhado. Temos nossos parceiros, que ajudam muito para que o clube esteja aí, mas não temos tudo que precisamos para ter um time vencedor. Falta muito. Formamos um time com três vezes menos investimento do que o Joinville, por exemplo.

Quem entrevistou: Rodrigo Braga, editor de esportes do Santa; Paola Loewe, repórter, Cláudio Holzer, colunista.

Fonte: Jornal de Santa Catarina

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