
Da prefeitura, Rosty disparava as missões de resgate.
Foto: Paulo Célio (divulgação, 23o.BI)
Reproduzo aqui o texto de uma ótima reportagem veiculada no Jornal de Santa Catarina de hoje, mostrando o outro lado do gerenciamento de todo um batalhão, literalmente falando.
À frente de um batalhão
Responsável pela vinda de carros anfíbios e helicópteros a Blumenau, o tenente-coronel Édson Skora Rosty teve sob o seu comando 1, 1 mil militares durante a calamidade no Vale
Enquanto o tenente-coronel Édson Skora Rosty, comandante do 23º Batalhão de Infantaria de Blumenau, concedia entrevista ao Santa, em 3 de dezembro, um padre do Exército de Florianópolis trazia palavras de conforto aos soldados do batalhão. A ajuda espiritual é para amenizar o sofrimento dos militares que se mostraram abalados com situações enfrentadas durante os resgates.
– Não temos psicólogo no batalhão, mas monitoramos quais militares demonstram maior abalo emocional. Se for preciso, são encaminhados aos psicólogos do Hospital Militar em Florianópolis – explica Rosty.
Durante as missões, a razão é o norte do trabalho dos soldados. Quando retornam ao batalhão, nem todos se mantêm emocionalmente fortes.
– É o tal “cair a ficha”. Se davam conta da gravidade da situação, de quantas pessoas perderam tudo. E acabavam desabando. Alguns, quando paravam para comer, não conseguiam.
A operação foi exaustiva. Na quarta-feira, Rosty pediu reforço de Joinville para substituir os homens que estavam desde a madrugada de domingo na organização de abrigos. Nos alojamentos em comunidades isoladas, a dificuldade de abastecimento limitou os militares a uma refeição por dia.
– Só comece a reclamar se você passar mais de 24 horas sem comida. Não sabemos até quando teremos alimentos – orientou o tenente-coronel.
Aos abrigos, onde Rosty considera “que o estresse é maior”, além dos soldados, são enviados sargentos mais experientes, acima dos 35 anos de idade. O objetivo é manter o equilíbrio entre a maturidade e o vigor físico, explica. Entre os soldados, a média de idade é de 20 anos.
No ápice da operação, Blumenau contou com 1,1 mil soldados do Exército – 400 deles vieram de outras cidades. Os trabalhos iniciaram com cerca de 250 dos 675 militares do efetivo do batalhão, no domingo em que o Rio Itajaí-Açu transbordou.
– Muitos estavam ilhados ou tinham perdido a casa. Comecei com 51 militares que eu não sabia onde estavam – relembra Rosty.
A articulação começou um dia antes. O comandante do 23º BI estava em Curitiba (PR), num treinamento militar, quando recebeu a primeira ligação da Defesa Civil do município. O pedido era para que Rosty mobilizasse o batalhão. Distante de Blumenau, repassou a tarefa ao sub-comandante, Alexandre Tarta. O tenente-coronel só conseguiu chegar na cidade às 16h de domingo, depois de driblar inúmeras quedas de barreira em sete horas de viagem de carro. Durante o deslocamento, articulou a vinda de helicópteros e carros anfíbios para Blumenau. Em condições normais, o percurso de 220 quilômetros entre Blumenau e Curitiba é feito em até duas horas e meia.
O desmoronamento na Rua Hermann Huscher e a água acumulada na entrada da Rua Amazonas, no terminal da Fonte, o impediram de chegar ao batalhão. Rosty se integrou ao Gabinete de Crise na prefeitura. Através do celular, disparava as missões de resgate ao batalhão.
A série de reportagens Personagens de Novembro destaca os dramas humanos por trás das grandes decisões tomadas durante a tragédia que devastou o Vale do Itajaí
Reportagem: Daiane Costa
seja o primeiro a comentar!