sábado, 20 de dezembro de 2008

Poesia (Natal, por Luiz Eduardo Caminha)

Natal

Eu quis escrever Natal.
Num berço, uma gruta,
Um menino,
Emanuel,
Deus Conosco!

Eu quis fazer Natal!
Na calçada, na rua,
Um maltrapilho,
João, José,
Quem sabe?
O Homem desfigurado.

Eu quis entender Natal.
O homem imagem
Semelhança de Deus,
Ali, cheio de chagas,
Ferido
Ultrajado,
Mais parecia o Jesus da Cruz!

Eu quis pensar Natal,
Não ouso, não posso,
A dor, tristeza,
Não me permite,
A dura realidade,
Não deixa,
Que eu veja,
Deus, nos homens.

Ao lado do homem,
Uma criança,
Um cachorro sarnento,
Um brinquedo quebrado.

Suas mãozinhas afagavam,
Aqueles cabelos desgrenhados,
Sua fome balbuciava,
Papai, quero um pão.

Uma lágrima seca,
Marcava o rosto molhado,
Pela chuva da miséria.
Aí eu soube, compreendi,
Havia um Natal a construir.

Saio da pasmaceira,
Ergo os olhos aos céus,
Atravesso a rua,

Em meio a fogos,
Papais Noéis bordados,
A festa rolava numa casa.

Entro, grito,
Gente! Do outro lado da rua,
Eu vi o menino!
Eu vi Jesus!
Um prato, por favor,
Mesmo que seja de migalhas,
Quero entender o Natal!!!

Quero estender o prato,
Enxugar o pranto,
Dar feições àqueles seres,
Pobres, desvalidos,
Que nada têm.

Em meio à noite,
Madrugada alta,
A chuva, enxurrada,
A terra encharcada,
Treme.
Tudo desmorona.

Em poucos minutos, Tudo é igual,
Ninguém tem nada,
Como o homem,
Como a criança,

A lama, misturava,
Os pedaços de móveis,
Aos retalhos daquelas vidas,
Tudo se foi,
Água abaixo.

Todos, então, compreenderam,
Há um Natal a construir!!!

Luiz Eduardo Caminha

seja o primeiro a comentar!

Postar um comentário