quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A ordem é reconstruir !

Do blog de Luiz Caminha, uma crônica magnífica:

Blumenau, a ordem é reconstruirAs imagens das últimas tragédias dormitavam nos recônditos da mente dos blumenauenses. Lampejos que iam e viam, cada vez mais raramente. As marcas das cheias de 1983 e 84 não passavam de pálidas fotos de arquivos. Da enxurrada do Garcia, que vitimara 18 pessoas em 1993, ficara uma certeza, ainda que incerta: Nada daquilo voltaria a acontecer!Lembro das campanhas de solidariedade. Pertencíamos, eu e minha esposa, ao Posto da Defesa Civil da Igreja Matriz. Estávamos em plena Oktoberfest. Fomos à Proeb, naquela tarde em que Helmuth Högl chorou emocionado. Inúmeras pessoas, mesmo vivendo o drama, compareceram para comprar um CD da banda cuja renda seria destinada aos atingidos.

O Brasil se solidarizava com envio de gêneros alimentícios, água, roupas, colchões, depósitos em dinheiro. Blumenau responderia, mais tarde, em favor das vítimas de catástrofes semelhantes em Petrópolis e no Nordeste. Tudo! Tudo isto parecia estar esquecido na face risonha de uma geração de jovens – crianças à época – que, agora, tocam a cidade.De repente, lembranças sacudidas trazem à baila novas imagens e tensões, outras tristezas, muitas dores. A tragédia voltou! E pior! Muito pior! Blumenau e região são vítimas de novo. Com uma intensidade jamais vista.

Morros pareciam torres de castelos de areia. Ribeirões transformados em caudalosos rios de entulhos, pedaços de móveis, água barrenta de cor escarlate. O sangue da terra misturando-se ao das vítimas dos soterramentos. Não mais um único bairro, mas a cidade, a região inteira sofre a fúria de uma natureza que parece querer vingança.

É a maior tragédia da história de Santa Catarina. Os números da catástrofe ampliam-se. Uma calamidade! Os efeitos são inúmeras vezes superiores aos do passado. Para alguns, o Apocalipse começava a sair da letra. O Brasil se solidariza novamente.

Num abrigo a esperança veste-se de criança. De aniversário, sonha uma festinha. Seus pais choram os parentes vitimados. O espectro da morte, foice à mão, ceifa vidas. Parece não haver sobrado pedra sobre pedra. Apesar disso, o povo já pensa o amanhã, a reconstrução. Respira - pois respirar é preciso - a esperança de uma vida nova. Brioso e corajoso povo!

Das cinzas, das brumas, fará nova colheita, verá o sol reluzir de novo. Revive-se Jeremias que, apesar das desgraças, mantém sua inabalável fé em Deus na esperança certeza de um futuro melhor.

Não se ouve mais “Hallo Blumenau! Bom dia Brasil! Dezessete dias de folia!”, a música que Helmut Högl celebrizou como um hino da Oktoberfest. No rádio a voz de Ivan Lins: “Começar de novo e contar comigo. Vai valer a pena ter amanhecido”. A ordem é reconstruir e pelo que conheço dessa gente, isto é uma questão de tempo. Muito pouco tempo!

Avante – mais uma vez – Blumenau!
Luiz Eduardo Caminha27.11.2008

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