sexta-feira, 6 de março de 2009

Conto: A história de Joana (para a semana da mulher)

A história de Joana !

Joana era daquelas mulheres que chamavam atenção. Não, não por suas singelas feições. Afinal, aquela pequena mulher de 35 anos, de seus 160 centímetros, que ostentam 58 kgs distribuídos nem tão proporcionalmente, não era cotada a figurar no manual de “referências de beleza” de nossa sociedade. Mas, Joana, de lábios grossos e sempre vermelhos realçados pelo forte batom, nunca esmoreceu. Aliás, durante as noites, quando acabava o bico extra como pedicure/manicure, ela também gostava de cuidar de si. Um belo banho, cuidado com sua pele, com seu próprio corpo. Assim, poderia colocar seus dois filhos na cama com um agradável cheirinho de sabonete de erva-doce. Poderia contar as historinhas que já faziam parte de sua rotina para com eles, com mais disposição.

Em seguida, outra etapa rotineira: O preparo do almoço no dia seguinte, para ela e seu marido. João Pedro saía cedo para o trabalho na cidade vizinha, e só voltava tarde da noite. Perto da meia noite, e Joana já finalizara suas tarefas. É hora de dormir. Pé ante pé, chega silenciosa no quarto para que João não acorde. Afinal, ele não gostava muito de ser acordado no meio da noite. Depois das orações, o sono chega intenso para Joana. Dorme intensas 5 horas até que o despertador a lembre que mais um dia chegou. O espelho do banheiro revela as olheiras que o tempo deixou em seu rosto. Não se lembra de quando conseguiu dormir mais que 6 horas num único dia. Mas era forte...

Depois de tomar um rápido banho, pegar a comida na geladeira e beijar as crianças que mais tarde João levaria para escola, ela sai. Com o céu ainda escuro, ela embarca no mesmo ônibus que a leva todos os dias a um bairro distante, onde há quase 1 ano trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma empresa de cosméticos. Hoje, Joana estava mais preocupada que nos outros dias. Afinal, tinha que trabalhar sabendo que seu filho mais velho, Felipe, passaria por uma prova de recuperação. Se não fosse bem, reprovaria no ano letivo. Já Anderson, o mais jovem, estava com uma forte gripe. Mas, o trabalho intenso não permitia que ela conseguisse pensar por muito tempo.

No almoço, ela mal conseguia saborear a comida que preparou para si mesma e para o marido com tanto carinho. Afinal, a preocupação tirava-lhe a fome. Trabalhou, trabalhou, e logo chegaram as 18 horas. No ônibus lotado que sempre lhe deixava no bairro de casa, Joana pensou nas contas que tinha pra pagar, em sua mãe que morava longe e que estava com problemas de saúde, na gripe do filho, e na prova do outro filho. Não deixava também de pensar se o esmalte que comprara mais barato na empresa onde acabou de sair agradaria sua cliente de logo mais.

Chegando enfim à escola dos filhos, onde eles sempre a aguardavam em companhia do seu “Zé”, o vigia da escola, ela estava mais aliviada. Felipe disse a ela que se saiu bem na prova, e achava que poderia passar. E Anderson nem estava mais tossindo e lacrimejando. Ficou feliz. Poderia prosseguir seu dia mais tranquila, depois de deixá-los em casa. O mais velho, de 12 anos cuidava do mais jovem, de 8 enquanto a mãe não retornava do seu segundo trabalho. Hoje, seu dia estava ótimo realmente. Sua cliente adorou a cor do esmalte que Joana trouxera. E assim, depois de cuidar dos pés e mãos de sua cliente, Joana voltava pra casa contente, assoviando uma música sertaneja que sempre lhe agradava durante o almoço no radinho pequeno do refeitório da empresa. Nem a forte dor que há anos sentia nas costas lhe incomodava.

Ao chegar em casa, era a vez de cuidar de si. De colocar algo no estômago. De tomar o seu banho. De se preparar para o marido, mesmo que invariavelmente ele já estivesse dormindo na cama. Então, novamente ela contava as historinhas que os dois tanto gostavam, e saía diretamente do quarto improvisado com beliche para a cozinha. Hora de preparar o almoço de amanhã. Com alegria, Joana preparava a refeição imaginando o que fazer no fim de semana que estava chegando.

A única coisa que tinha certeza, era que o sábado seria quase todo reservado, como sempre fazia, para os afazeres da casa. Louças, roupas, pó, calçadas, jardim, e eteceteras. Portanto, depois da missa dominical com a família ela teria toda a tarde livre, pra fazer o que bem quisesse. E isso lhe alegrava. Porém, quase sempre ela escolhia a mesma coisa: Passear e brincar com seus filhos. Joana, essa Joana, seu marido, seus filhos, só existem em meu imaginário. São personagens. Mas, você pode encontrar Joanas por toda parte.

Essa foi a maneira que escolhi para homenagear as mulheres de minha vida... E todas as mulheres do mundo, pela passagem da semana da mulher e em especial do dia 08 de Março. Na verdade, esse para mim é apenas um dos 365 dias da mulher que existem no ano.

Parabéns, Joanas !!!
Autor: Márcio Volkmann

7 comentários

Andrea Dittrich disse...

Linda mensagem. Muito obrigada pela homenagem. Bjs

Márcio Volkmann disse...

Obrigado. Você sabe bem que uma das melhores de minha vida, é você.

Beijo.

Anônimo disse...

muito lindo, parabéns!
bjosss

Anônimo disse...

Belo conto. Realmente somos muitas e muitas Joanas, mas os Joãos, dificilmente percebem...
Mais do que uma blusa, um perfume ou sei lá o que de presente, precisamos de reconhecimento. Isso sim, deixa a mulher renovada e forte!
Parabéns pela sensibilidade.

O bEM viVER disse...

Márcio,

Eu estava já ansiosa pra ver a primeira homenagem à NÓS. E vi essa sua. Bela HISTÓRIA, real para a maioria das mulheres, não apenas brasileiras.

Que Deus e nossa Mãe em sua misericórdia, proteja e guie todas mulheres ricamente.

Lena

Anônimo disse...

Parabéns pelo lindo texto... ímpar como boa parte de tudo que escreves...
Beijão

Anônimo disse...

Uma linda homenagem, reveladoras de sensibilidade ao mundo da mulher. São de homens assim que o mundo precisa, homens que observam o cotidiano da vida de uma mulher. Parabéns querido !

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